
A educação socioemocional de crianças e adolescentes ganhou muita visibilidade nos últimos anos. Além da urgência em preparar estudantes para a vida em sociedade, o tema também é importante para garantir a saúde, a capacidade de adaptação e também o bom desempenho dos alunos dentro e fora da escola.
Para investigar se e como as escolas influenciam o desenvolvimento socioemocional dos alunos (e quais os impactos desse fenômeno), um grupo de pesquisadores investigou, nos Estados Unidos, quase 160 mil estudantes. Além de comparar seu desempenho acadêmico, a pesquisa mediu também fatores como criminalidade, educação superior e bem-estar.
O resultado? A educação socioemocional é ainda mais importante do que se imagina para influenciar todos esses aspectos.
Neste post, trazemos os principais insights da pesquisa – e o que eles podem significar também para a realidade brasileira. Ao final, você pode acessar o material completo, disponível em inglês.
Boa leitura!
O que você vai ver neste post
1. Introdução
2. Sobre a pesquisa
3. O aprendizado socioemocional – habilidades envolvidas
4. Resultados
5. Conclusão
Sobre a pesquisa
Em Linking Social-Emotional Learning to Long-Term Success, 5 pesquisadores analisaram dados coletados de quase 160 mil alunos de um distrito escolar nos Estados Unidos. Além das pesquisas sobre desenvolvimento socioemocional e clima dentro das escolas, eles também avaliaram os resultados de provas formais e avaliações tradicionais aplicadas pelas escolas.
Os resultados dos testes e dos relatórios coletados foram utilizados para traçar os impactos sentidos pelos alunos em várias dimensões, como evasão escolar, prisão, graduação no Ensino Médio e também matrícula no Ensino Superior. O objetivo era cruzar as informações das avaliações formais de desempenho com fatores como o desenvolvimento de soft-skills e o grau de bem-estar de cada aluno.
O aprendizado socioemocional – habilidades envolvidas
A educação socioemocional é um tema frequente nas escolas e, nas últimas décadas, tem ganhado atenção especial. Além da preocupação com a inteligência emocional dos alunos, as habilidades conhecidas como soft skills também têm sido visadas pelo mercado de trabalho – e exigidas dos novos profissionais.
Nesse contexto, algumas habilidades específicas compõem o quadro da educação socioemocional. Dentre elas, estão a autogestão, a tomada de decisão responsável, a autoconsciência, a consciência social e também as habilidades de comunicação e relacionamento. Na pesquisa em questão, todas essas áreas foram consideradas, além das chamadas hard skills, ou habilidades técnicas, medidas pelas provas e avaliações tradicionais.
Resultados da pesquisa
Após o cruzamento das informações coletadas e a análise estatística dos dados, os pesquisadores concluíram que o valor agregado proporcionado pela educação socioemocional – no combate a comportamentos nocivos e também na contribuição ao próprio desempenho educacional dos alunos – foi muito maior do que pela educação tradicional, medida pelos testes padronizados. Em outras palavras, a educação socioemocional é um fator preditivo muito mais relevante de sucesso educacional do que a própria educação como conhecemos hoje.
Mas, além de ser preditiva de comportamentos importantes a curto prazo, como menos faltas na escola e distância da criminalidade, a educação socioemocional também está fortemente correlacionada a consequências de longo prazo, como a conclusão do Ensino Médio e a entrada na universidade.
Além dos impactos no desempenho educacional e no comportamento social, os alunos de escolas que priorizavam o desenvolvimento emocional dos estudantes também relatam maior bem-estar: comparados com alunos de outras escolas, aqueles que trabalhavam suas soft skills relataram satisfação 9x maior.
Dentre as vantagens mencionadas pelos pesquisadores, destaca-se ainda a capacidade que os alunos apresentavam de refletir sobre o próprio desempenho, reconhecer suas habilidades e também se relacionar bem com os demais. Dessa forma, além da educação socioemocional impactar seu desempenho dentro de sala de aula, os preparava também para lidar com os desafios e, em última instância, fazê-los se sentir melhor consigo mesmos.
Em resumo, nas palavras dos próprios pesquisadores: as escolas influenciam de fato a visão de bem-estar que os alunos têm, suas visões sobre si mesmos e, de forma geral, seu desempenho na educação e na vida.
Além das habilidades interpessoais, outro set de características medido pela pesquisa foram as chamadas habilidades relacionadas a trabalho. Dentre elas, está a capacidade dos alunos manterem-se focados e disciplinados mesmo se não estivessem interessados na disciplina ou atividade em questão.
Nas escolas em que a educação socioemocional era presente, essa capacidade era presente nos alunos 6.4x mais que em alunos de outras escolas. E o reflexo também fica evidente nas notas: quando a educação é combinada com o treinamento socioemocional e o desenvolvimento dessas soft skills, o desempenho dos alunos pode ser explicado pelos fatores não acadêmicos em até 47%.
O que também mostra como o desenvolvimento socioemocional dos alunos pode ser mais fundamental do que se imagina para o sucesso acadêmico.
Por fim, além da educação emocional impactar o nível de bem-estar, as soft skills e o desempenho acadêmico dos alunos, ela também é um grande fator preditivo do sucesso pós-escolar. Os alunos de escolas que priorizam a dimensão emocional têm maior probabilidade de acessar o Ensino Superior, em especial, cursos com duração de 4 anos ou mais.
Conclusão
Apesar da pesquisa abranger estudantes da região dos Estados Unidos, muitos dos insights sobre o papel da educação socioemocional nas escolas também podem ser extraídos da realidade brasileira. Várias escolas no país já têm priorizado o desenvolvimento humano dos seus alunos – e colhido muitos frutos dessa decisão.
Além de ajudar os alunos a desenvolverem suas conexões com os colegas e com a sua comunidade, as chamadas soft skills os ajudam a melhorar seu próprio desempenho acadêmico e profissional. E, para muito além da escola, desenvolver tais habilidades é também um fator fundamental para garantir ainda que se mantenham longe da criminalidade e mais próximos de conseguir uma formação superior.
A principal lição da pesquisa é que as escolas podem e devem trabalhar com a educação multidimensional – aquela que, além de priorizar os conteúdos formais, investe também na preparação humana e integral de seus alunos. O objetivo? Prepará-los para a vida em sociedade, para a interação com os demais e também para dá-los a estrutura necessária para a vida adulta e para o exercício da cidadania.
Para conferir a pesquisa completa (em inglês), basta clicar no link abaixo:
Education Next: Linking Social-Emotional Learning to Long Term Success
Na sua escola, como é trabalhada a inteligência socioemocional? Compartilhe sua experiência conosco nos comentários!